terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Bairro de Santa Tereza... muito charme e simplicidade no Rio de Janeiro.

Cadê Teresa?

O bairro mais quente do Rio tem bares, pousadas, castelos, samba, franceses, cinema e aquele jeitinho que só as cariocas têm. Você também não vai resistir...

Terraço do Relais Santa Teresa.

"Podem me chamar de Santa. Alguns acham que sou chique e cheia de glamour. Outros me definem como pitoresca e bucólica. Mas numa coisa todo mundo concorda: o que não me falta é muuuito charme."

Se o bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, falasse, essas palavras poderiam ser dele. Elas retratam a alma da região que, depois de passar algum tempo esquecida, se recupera com vitalidade impressionante. As chácaras começaram a surgir em 1850, e muitos dos belos casarões da época foram preservados. Alguns estão debruçados em ladeiras de paralelepípedos em que bondes amarelos circulam sobre trilhos. Outros se tornaram museus, centros culturais ou hotéis de luxo. A posição geográfica é privilegiada: o bairro fica numa montanha de onde se vêem a Zona Sul, a Zona Norte e o centro da cidade. Ou seja, estão ao alcance dos olhos alguns dos mais importantes cartões-postais cariocas: Pão de Açúcar, Corcovado, Arcos da Lapa, Outeiro da Glória, Maracanã, Aterro do Flamengo...

O spa do Hotel Santa Teresa, aberto também a não-hóspedes.

Mas o melhor de Santa não é a vista panorâmica. O que torna o bairro um dos mais agradáveis da cidade é seu jeito único e supercarioca. Um clima familiar em que todos parecem se conhecer. Pode-se entrar na casa de moradores para comprar doces, pão caseiro, ver roupas numa garagem de carro transformada em butique por uma estilista ou visitar ateliês. Já o requinte fica por conta dos investimentos em hotéis e restaurantes transados.

Fusca da loja Favela Hype.

O primeiro hotel com padrão internacional foi o Relais Solar, aberto há três anos pelo produtor cultural canadense Gwenael Allan. Ele escolheu viver em Santa depois de morar em Paris, Londres e Nova York e criou o conceito de turismo criativo. Como são apenas cinco quartos num grande jardim, o serviço é totalmente personalizado. Se, por exemplo, um grupo de amigos reservar todos os cômodos, é possível decidir quais serão as flores na decoração, o tipo de cozinha (francesa ou japonesa), as atividades (como pilates ou dança). Podem-se dar jantares com a possibilidade de ter um banda de chorinho ou qualquer outra coisa que a imaginação permitir. Allan acaba de adquirir a mansão que pertenceu aos De Botton, antigos donos da Mesbla, onde atualmente funciona o Solar Real, que deve ser transformado em spa no futuro.

Pertinho do Relais Solar, foi inaugurado, no início de outubro, o Hotel Santa Teresa, no lugar do decadente Hotel dos Descasados. É um luxo. A decoração do francês François Delort, que representa o grupo de investidores estrangeiros, é inspirada nos trópicos. Nada de tinta nas paredes - apenas cal, chão de cimento queimado, madeira de demolição, piscina de ardósia verde. A fachada original, de 1850, tombada pelo Patrimônio Histórico, foi mantida. O chef francês Damian Montecer, que trabalhou nas cozinhas de Alain Ducasse, em Paris, e Gordon Ramsey, em Londres, está no comando do restaurante Terèze, que, assim como o bar e o spa, é aberto a não-hóspedes.

Seguindo a linha dos hotéis chiques, na descida da Rua Santa Cristina encontra-se o Mama Ruisa. São apenas sete apartamentos, que recebem principalmente estrangeiros. Os 20% de brasileiros que procuram o hotel vêm de São Paulo ou da Bahia. É gente que conhece bem o Rio e procura originalidade, quer resgatar a sofisticação dos anos 1930. O som ambiente não é de CD, mas de vinis de Nat King Cole, Sarah Montiel etc.

Fachada do restaurante Sobrenatural.

Santa tem também coisas mais baratas. A rede Cama e Café foi lançada em 2003 por três amigos de infância criados lá: João Vergara, Carlos Magno e Leonardo Rangel. O viajante hospeda-se na casa dos moradores. Já existem 50 delas cadastradas. A mistura de diversidade e improviso, típicos do bairro, costuma agradar aos gringos. Cada espaço, loja, restaurante, cinema, hotel tem funções múltiplas. Camila Andersen, filha do dono do espaço Flor e Cultura, descreve o lugar como "um centro de difusão de arte e cultura, que integra pizzaria, showroom de decoração, ateliê de artista e projetos de paisagismo". Parece muita coisa, mas o local é uma graça e funciona. O hotel Terra Brasilis, com bela vista para os Arcos da Lapa e o centro do Rio, tem lojinha de artesanato, exposição de fotografi as, bar, restaurante, shows de MPB nos fins de semana e, segundo Big Otaviano, artista que se apresenta na casa, "interferências de poetas", que podem levantar de repente e recitar alguns versos. Em Santa reina essa atmosfera em que tudo é possível a qualquer momento. No Largo do Curvelo acontecem rodas de samba aos domingos, a partir das 18 horas. É só chegar. Nos bares do Largo das Neves nem tudo é programado com antecedência, mas frequentemente tem música ao vivo nos fins de semana.

O velho bondinho que corta o bairro.

E foi nesse clima de improviso que o bairro ganhou seu primeiro cinema, o Cine Santa. Tudo começou com projeções de filmes na igreja anglicana, onde o telão era colocado no altar. Hoje o Cine Santa está num lugar não menos inusitado. Ele passou a ocupar o prédio da delegacia, no Largo dos Guimarães, e os policiais se mudaram para os fundos da casa. A convivência é amigável, segundo Rodrigo Oliveira, que cuida do funcionamento do cinema. Os policiais preferem filmes de ação. Ali também funciona (além de um café e uma galeria) um importante centro de informações. Para valorizar o "turismo solidário", a maioria dos guias vem das comunidades do bairro. Eles são treinados e organizam passeios a pé e de bonde. O Santa Teresa Tour visita o Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, os principais restaurantes e lojas, o Largo do Curvelo, o Parque das Ruínas e o Museu da Chácara do Céu. "Em Santa, o que não faltam são fé e festa", diz o guia Thiago Silva enquanto mostra a matriz. A origem do bairro é religiosa: o nome veio do Convento de Carmelitas Descalças de Santa Teresa, que começou a ser construído em 1750.

Na década de 1990, a criminalidade não poupou Santa. Atualmente, segundo o professor de arquitetura Alfredo Britto, especialista no bairro, ele é um dos locais razoavelmente seguros do Rio. "O atual governo policiou mais. Mas a mudança principal foi a de percepção da segurança. As pessoas se sentem seguras aqui", diz ele. Claro que você precisa tomar os cuidados de praxe - basicamente, não dar bobeira. Agora um dos grandes riscos que o turista corre de fato, em Santa, é o de se apaixonar perdidamente e acabar comprando uma casa para morar. De acordo com o corretor João Cabral de Melo, filho do poeta João Cabral de Melo Neto, há um boom imobiliário. João Cabral declarou ter vendido mais de 40 casarões de 1999 a 2006, sobretudo a estrangeiros. Uma das ofertas no mercado é a de um castelo, de 1888, avaliado em 2 milhões de dólares.

Se você não tem, basta passear por lá. Vale a pena pegar esse bondinho.


Fonte: Revista Viagem e Turismo - JAN/09.

2 comentários: